sexta-feira, abril 26, 2024
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Blog Além do Câncer: “Como eu descobri um câncer aos 21 anos”

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“Como” é a pergunta que eu mais ouvi desde que tive o diagnóstico e contei pras pessoas sobre a doença. É também a pergunta mais difícil de responder. Pensa, como eu digo pras minhas amigas o que elas precisam ou não devem fazer sendo que nem eu sei como eu descobri?

A verdade é essa: foi meio que por acaso, do nada e totalmente sem pretensão. Esbarrei no câncer. Literalmente uma pedra no meu caminho.

É pra isso que surgiu a ideia do perfil, das histórias. É pros outros tanto quanto é pra mim. Eu espero que até o fim do tratamento eu consiga ter a resposta de como eu descobri e tive um câncer aos vinte e um anos.

Então, por onde eu começo essa história?

Sentada em um consultório para uma consulta de rotina. Tinha sentido algo diferente no meu peito, mas é normal, né? “Vamos fazer um exame para conferir”. Sem pânico na voz. Fiz o ultrassom e nada, necessitava de uma biópsia. A ansiedade começou a tomar conta. “Que diabos é isso?”.

Foi uma semana de pensamentos conturbados, confusos, de puro medo.

Até que em um desses dias de espera eu saí correr. Fui pensar sobre tudo que estava acontecendo. Parei. Respirei. E ali, no meio da noite, na rua, eu soube. O resultado pra mim veio antes que o papel — se vocês quiserem acreditar em motivos esotéricos, tudo bem, nem eu sei explicar.

Mas tava lá. Tanto que, um dia depois da minha colação de grau (online, obrigada covid), eu estava sentada em outro consultório com um envelope nas mãos, que diziam as palavras temidas. E foi simples assim. Linear assim.

Quase que automático, eu diria. Resolver o que precisa resolver, papéis, plano, exames, indicações, consultas, plano alimentar e a lista segue sem fim. Hoje, com duas quimioterapias já feitas, acho que a primeira vez que parei para pensar sobre isso sem pressão, com tempo para analisar. A absorção do que tá acontecendo vem aos poucos, é gradual. Tem dias que eu esqueço, tem dias que acordo e só penso nisso. É montanha-russa. Intenso, cru e real.

Nunca achei que, com tantas expectativas e desejos de uma guria recém-formada, eu estaria me importando com a quantidade de plaquetas no meu sangue ou genética. Quanto mais penso nisso parece absurdo, que não acontece com ninguém. Mas acontece.

Qual é o motivo pelo câncer? Sem histórico familiar, sem sintomas, sem dor.

Não sei, talvez eu nunca saiba exatamente o porquê, o quando ou o como. E no fundo de tudo, não importa. A grandiosidade do diagnóstico está na gente, na forma que a gente encara. Nunca nos define.

 

*Este relato integra o projeto “Além do Câncer”, no qual a Barbara Popadiuk conta histórias, reflexões e desabafos de uma garota de 22 anos com câncer de mama. Barbara nasceu em Rio Negro, mas cresceu na Vila Nova, em Mafra. Ela é jornalista, formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e mestranda em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

 

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