quarta-feira, abril 17, 2024
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Blog Além do Câncer: Dos exemplos inesperados

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Estou quase terminando esse ciclo de quimioterapia. E dessa vez falo do ciclo como um todo, como a etapa.

Falta só mais uma.

Toda sessão aparece gente diferente. Tanto fazendo quimio quanto outros tratamentos para câncer.

Lembro que a minha primeira eu fiz sozinha. Minha irmã ficou junto comigo (único dia que tive acompanhante) pra me dar uma força. Mas era eu, ela e as enfermeiras que administravam tudo.

Depois disso, o fluxo de pessoas sempre mudou. Em uma dessas primeiras sessões, quando eu ainda estava meio medrosa, começando a aprender sobre esse mundo, eu conversei com duas mulheres, que assim como eu, tinham câncer de mama.

Elas já estavam nas últimas etapas do tratamento. Lembro que foi muito reconfortante e me deu um certo alívio ouvir as histórias de pessoas que estavam bem, apesar dos pesares. Me fez pensar ainda mais sobre o quanto era possível, e, principalmente, que dava pra falar sobre isso de forma mais natural. E que fazia diferença.

Na minha penúltima sessão apareceu uma nova mulher. Ela não tem câncer de mama mas está no começo do tratamento. Ela chegou fazendo muitas perguntas e eu vi no seus olhos um conforto ao me ver, vendo que podia conversar um pouco com alguém que assim como ela, estivesse nesse processo.

Ela estava com uma pastinha, e eu lembro que foi a primeira coisa que eu fiz quando recebi o diagnóstico: arrumei tudo que já tinha em uma pasta. E levava ela pra todo lugar. Quando é que eu iria precisar daquela guia ou daquele exame de sangue??

Hoje, já sabendo tanto sobre (muito mais na prática), continuo tentando falar sobre isso da melhor maneira, da mais sincera e leve que eu encontro. Ela me perguntou sobre as sessões, sobre cabelo, sobre detalhes que são os que a gente acha que precisa resolver de cara. Depois a gente aprende que a paciência é o que tem que exercitar.

Nessa sessão voltei a memória nas minhas primeiras. Parecia tão distante o fim. Estou tentando desde então ser uma pessoa que, mesmo com uma fração doente, percebe o quanto de si é saudável e incrível.

Tentei ser essa pessoa pra senhora que está no início do seu tratamento. Igual aquelas mulheres foram pra mim. Mostrar que é possível viver, que passa e que é muito rápido – apesar de parecer que não vai acabar nunca.

Tenho refletido como eu era boba, querendo (até com um câncer!) organizar e resolver tudo. E como tive que reaprender, me adaptar ao que passou.

O que a gente precisa mesmo pra passar por isso é paciência, amor. Respirar fundo e continuar a nadar (já diria Dory).

Neste dia me vi na senhora e quis muito abraça-la. Dizer que o que ela precisa ela já tem, dentro dela.

Estou louca para escrever que essa etapa acabou.

 

 *Este relato integra o projeto “Além do Câncer”, no qual a Barbara Popadiuk conta histórias, reflexões e desabafos de uma garota de 22 anos com câncer de mama. Barbara nasceu em Rio Negro, mas cresceu na Vila Nova, em Mafra. Ela é jornalista, formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e mestranda em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

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