WhatsApp e redes sociais como Facebook e Instagram são os meios digitais mais citados. Apenas 10% das empreendedoras se sentem preparadas para lidar com todas as áreas do negócio
A pandemia impulsionou o crescimento do canal online no Brasil. E não foi diferente nas empresas dirigidas pelas mulheres brasileiras. Um estudo realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em parceria com o Sebrae, aponta que as vendas pela internet possuem uma expressiva participação no negócio das mulheres empreendedoras do país: 88% das entrevistadas utilizam canais de venda online, principalmente o WhatsApp (74%) e as redes sociais (57%). Os canais de venda física representam 44%, sendo que 22% possuem escritório/loja e 20% vão até o cliente, o famoso “de porta em porta”.
Apesar do uso frequente das ferramentas de venda, especialmente as digitais, é notório que a maioria dos negócios das mulheres ainda necessita de profissionalização. Praticamente nenhuma tem uma equipe profissional para cuidar do marketing da empresa, sendo que elas próprias acabam assumindo essa responsabilidade (95%).
Além disso, ainda é baixo o número de empresárias que investe financeiramente em algum canal de divulgação para atração de clientes, menos da metade faz isso (42%). Entre as que fazem, o uso mais frequente é o impulsionamento nas redes sociais (23%). Trata-se de uma modalidade relativamente barata e que ajuda as empresárias a prospectar novos clientes. Por outro lado, 58% não investem em nenhum canal.
“As empresas tiveram que se adaptar rapidamente durante a pandemia e os pequenos varejistas encontraram nas redes sociais uma saída para continuar atendendo a sua clientela. E diante da crise essa adaptação foi realizada na maioria das vezes sem capital e sem capacitação, sendo feita diretamente pelos empreendedores e empreendedoras”, destaca o presidente da CNDL, José César da Costa.
Os desafios em relação à gestão dos negócios também ganham destaque na pesquisa. Embora 77% das empreendedoras adotem alguma prática de gestão para melhor conduzir o negócio, menos da metade faz controle de caixa (45%), controle de vendas (30%) e planejamento estratégico (17%). Já 23% admitem não adotar nenhuma prática.
“Os dados demonstram um caminho importante a ser percorrido para geração de crescimento e sustentabilidade da empresa sobretudo num cenário de instabilidade econômica o qual o país atravessa”, aponta a especialista em finanças da CNDL, Merula Borges.
92% enfrentam desafios na gestão dos negócios
Empreender no Brasil envolve múltiplos desafios e a opinião das mulheres empreendedoras reflete essa dificuldade. Os desafios para o crescimento da empresa são vários e quase todas (96%) foram capazes de citar algum especificamente, sendo os principais: as crises econômicas recorrentes (32%), conquistar clientes / vendas (31%), concorrência (25%), capital de giro (24%) e valor dos impostos (18%).
No que diz respeito aos desafios específicos da gestão do negócio, 9 a cada 10 mulheres mencionaram algum problema particular (92%), sendo os quatro principais: a gestão financeira (27%), o relacionamento com clientes (22%), a gestão de marketing e vendas (22%) e qualidade de produtos e serviços (20%).
“Muitas empreendedoras iniciam os seus negócios com um bom produto, mas sem conhecimento de gestão e isso impacta diretamente na administração e manutenção dessas empresas. O Sebrae, por exemplo, oferece uma ampla gama de cursos, muitos deles online, para capacitação dessas empreendedoras”, destaca Costa.
86% administram os negócios sozinhas
Empreender é uma atividade solitária para a maioria das mulheres empreendedoras: 86% das entrevistadas afirmam que administram sozinhas a empresa, percentual que é maior entre as mulheres das classes C/D/E (89%) e donas de negócios não formalizados (92%). Apenas 9% têm outras sócias mulheres e 4% sócios homens ou homens e mulheres.
A grande dificuldade relatada pelas empreendedoras é a conciliação dos “papéis” desempenhados pela mulher: ser empreendedora, dona de casa e mãe. Mais especificamente: 38% responderam que seu principal desafio ao empreender era “conciliar a vida profissional com as tarefas domésticas” e 34% que era “conciliar a vida profissional com o cuidado dos filhos/família”.
O preconceito quanto à capacidade das mulheres de ocuparem uma posição de chefia e liderança (16%) e o de que as mulheres são “menos capazes” dos que os homens (15%) também foram destacados pelas entrevistadas.
Apesar das dificuldades relacionadas ao lar e ao preconceito, mais da metade das empreendedoras (51%) concorda que também há vantagens das mulheres em relação aos homens, principalmente: a capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo (58%), serem mais atentas aos detalhes da empresa (53%), serem mais organizadas (52%) e mais criativas (50%).
Essa divisão é também observada na propensão que as empresárias têm de contratar outras mulheres. Entre as que possuem funcionários, aproximadamente metade prefere contratar outras mulheres (50%), sendo que para 29% essa é apenas uma preferência, porém não é determinante, e para 21% esse é um requisito importante.
55% consideram difícil ou muito difícil conseguir crédito no Brasil
O acesso ao crédito é um dos principais obstáculos a ser enfrentado pelo(a) empreendedor(a) brasileiro(a), especialmente o de pequeno porte e o microempreendedor individual. E essa dificuldade é confirmada pelas empreendedoras: trata-se de uma realidade para mais da metade das mulheres entrevistadas (55%), que considera difícil ou muito difícil conseguir empréstimos e/ou financiamentos para a empresa.
De acordo com a pesquisa, apenas 16% das empresárias pretendem tomar crédito nos próximos 6 meses, motivadas principalmente pela necessidade de incrementar o capital de giro (38%), pagamento de dívidas (35%), ampliação do negócio (35%) e compra de estoque e insumos (25%).
Quanto ao nível de endividamento, aproximadamente 2 a cada 10 empreendedoras do varejo e serviços possuem dívidas atualmente (23%), principalmente cartão de crédito (61%) e empréstimos (15%). Entre as que possuem dívidas, 56% estão inadimplentes.
Por CNDL