Pessoas de vários estados participaram do evento
Pela primeira vez no Brasil, foi realizada uma simulação com queima de baterias de íons de lítio automotivas em um evento aberto ao público. A iniciativa partiu do Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina (CBMSC), que organizou o treinamento em Mafra, no Planalto Norte catarinense. O workshop reuniu mais de 200 bombeiros de 12 estados brasileiros, além de representantes de empresas de tecnologia brasileiras e internacionais, bem como de agências reguladoras. O evento também contou com a presença do subcomandante-geral do CBMSC, coronel Jefferson de Souza.
O evento teve quatro palestras e quatro demonstrações práticas sobre o combate a incêndios em baterias de íons de lítio automotivas. O 9º Batalhão de Bombeiros Militar (9º BBM) organizou o primeiro evento público com queima de packs de baterias de lítio, em parceria com a WEG, empresa catarinense representada pela Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), e a empresa holandesa Fire Isolator, por meio da Autarcia Negócios.
Além de Santa Catarina, participaram bombeiros militares, comunitários, voluntários e civis do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Paraíba, Sergipe e Distrito Federal. Também estiveram presentes profissionais da Polícia Científica, pesquisadores, empresários do setor automotivo e especialistas em perícia de incêndio.
Apresentação de conteúdo
O workshop foi aberto pelo tenente-coronel William Leal Nunes, presidente da Coordenadoria de Combate a Incêndio Urbano do CBMSC e organizador do evento. O subcomandante-geral do CBMSC, coronel Jefferson, agradeceu a presença dos participantes e parabenizou o 9º BBM pela execução do evento.
A primeira palestra foi ministrada pelo major Ronaldo Ribeiro, do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo (CBPMESP). Coordenador da Comissão de Estudos sobre Eletromobilidade e Acumuladores de Energia do CBPMESP, o major apresentou casos reais de incêndios veiculares e abordou a segurança contra incêndios. “É possível combater incêndios em veículos eletrificados. A bateria de lítio tem fuga térmica, mas testes privados realizados por montadoras e este evento público inédito demonstram que estamos nos preparando para os quase 400 mil veículos elétricos no país”, destacou o major Ronaldo.
O oficial também abordou casos de incêndios em navios, oficinas de manutenção, estacionamentos, ônibus elétricos, scooters e patinetes, além de novos desafios como exposição a toxinas. “Novos protocolos demandam novas medidas de segurança”, afirmou.
A segunda palestra foi conduzida pelo sargento Rubens Bezerra Lima de Montalvão, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF). Especialista no tema desde 2012, o sargento abordou a composição das baterias de tração veicular e os desafios na fase de pré-socorro. Ele destacou a importância de identificar veículos elétricos em meio às chamas e o uso de aplicativos para facilitar essa identificação. “Volumes maiores de água são necessários para resfriar os módulos das baterias e evitar que as chamas se espalhem”, explicou.
O sargento Jean Michel Reis Vasconcelos, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Sergipe (CBMSE), destacou a importância do mapeamento de estatísticas e a utilização de sistemas de baixa tensão para desativar a alta tensão. Ele também abordou os riscos associados a incêndios em veículos elétricos, como explosões, riscos tóxicos e mecânicos, e os desafios em situações de inundações com água salgada.
A terceira palestra foi apresentada pelo holandês Dirk Silvius e pelo representante da Fire Isolator, Marcos Aurélio Espíndola. Eles demonstraram o funcionamento de uma manta de fuga, que extingue o fogo ao interromper o oxigênio. O experimento prático incluiu o uso de lanças de névoa de água e dispositivos de aerossol para reduzir os efeitos dos gases tóxicos.
Encerrando as palestras, Valter Luiz Knihs, diretor industrial da WEG, apresentou dados sobre o mercado de veículos elétricos e destacou que, embora os incêndios em veículos elétricos sejam menos frequentes que em carros a combustão, suas chamas são mais intensas e exigem técnicas de combate diferenciadas. Ele também discutiu o reaproveitamento de até 97% dos componentes das baterias.
Experimento controlado
As demonstrações práticas ocorreram em área externa com distâncias de segurança de até 90 metros. O uso de ventiladores, drones e câmeras térmicas garantiu o monitoramento da temperatura das baterias, acionando a refrigeração com água ao atingir 50 graus Celsius.
Nos simulados, foram utilizadas baterias de diferentes potências e composições químicas. No terceiro e quarto testes, baterias de 16 quilowatts/hora foram colocadas em carcaças de veículos. No caso das baterias NMC, o fogo foi controlado em pouco mais de meia hora com o uso de mantas anti-chamas, lanças de água e dispositivos de aerossol.
O workshop permitiu avanços no entendimento e desenvolvimento de técnicas para o combate a incêndios em baterias de lítio. O coronel Leal, do CBMSC, destacou o sucesso do evento: “Conseguimos reunir informações valiosas para um grande número de bombeiros, ampliando nosso conhecimento sobre um tema ainda novo no mundo”.
O major Ronaldo, do CBPMESP, também ressaltou a relevância do encontro: “Este evento foi essencial para disseminar conhecimento e mostrar que, embora desafiador, é possível combater incêndios em baterias de lítio. Estamos nos tornando multiplicadores dessas informações”.
O evento foi encerrado com um feedback dos participantes, marcando um dia de aprendizado intenso e significativo.