terça-feira, dezembro 3, 2024
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Blog Além do Câncer: “Tenho Câncer. E agora?”

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Nunca pensei em como quimioterapia funcionava. O que eu sabia dos filmes era: passar mal e perder cabelo.

Eu tive uma semana do diagnóstico até a primeira sessão, usei pra me inteirar de tudo que eu podia sobre o tratamento.

Olha, eu não sou médica, mas vou explicar de uma forma simples pra quem precisa ter esse mínimo de conhecimento, e, claro, baseado na minha experiência.

A quimioterapia nada mais é do que um tratamento com medicamentos. Esses medicamentos (tem muitas possibilidades, tudo depende do seu estado/ tipo de câncer), atacam suas células, atrás das células ruins, que formam o câncer. Essas células malignas se reproduzem e espalham muito rápido. É por isso que o meu tratamento começou com a quimio, pra estagnar essa reprodução e que ela não conseguisse passar pra outras partes do meu corpo, além de reduzir o tamanho do tumor.

O tratamento é totalmente individualizado. Não quer dizer que o seu câncer vai ter a mesma resposta que o meu para os remédios, é possível a necessidade de troca. As vezes, tudo se resume a cirurgia, as vezes,de radioterapia ou quimioterapia. Não tem como saber sem os exames e conversar com seu oncologista.

Mas tá, vou fazer quimioterapia. Como é?

Como tomar um soro por uma tarde inteira. Estou na minha terceira sessão, quase finalizando meu primeiro ciclo — são dois de quatro infusões. Fiz minha primeira da forma convencional, ou seja, furando o braço.

Depois, já realizei o procedimento de um cateter totalmente implantável. É outra vida! Posso me locomover durante, pegar meu livro com as duas mãos. É praticidade.

Na vida também não incomoda. Eu pesquisei mil relatos e não tive muita resposta de como ter um cateter dentro de você implicava no dia a dia. Posso fazer um post só sobre isso mais pra frente…

E os efeitos colaterais?

Outra coisa muito difícil de conversar. Cada um vai ter o seu combo diferente.

Eu acreditava mesmo que os básicos que já mencionei seria o que poderia acontecer. Há! Coitada de mim.

Náusea, enjoo, prisão de ventre, diarreia, perda de cabelo, dor no corpo, aftas, sensibilidade e dor no couro cabeludo, perda de apetite, ganhar peso, escurecer e enfraquecer as unhas, pele seca, mudança no paladar e na produção de saliva.

São muitos, né? Tenho certeza que não listei todas as possibilidades. As primeiras são as principais, com certeza alguma dessas você vai sentir.

No meu caso, tive sorte e não tenho muita náusea. Sinto mais sono e cansaço, principalmente nos primeiros dias depois do medicamento. Minha pele está bem ressecada (o frio também não contribui). Todas essas coisas são ‘fáceis’ de tratar e resolver. Cremes, remédios pra enjoo, dormir mais.

Mas a dor no corpo e nos cabelos são os efeitos que mais incomodam. Mesmo com remédio é algo que perpassa, de uma alguma maneira, todas as duas semanas de intervalo entre uma sessão e outra.

Isso é o que eu tive até agora — espero que continue assim, que já estou me adaptando. O que influencia muito é a alimentação. Não tenho restrição nenhuma, mas tento não consumir alimentos que sei que são mais gordurosos, com açúcar adicionado, etc. Assunto do próximo post!

E o que eu sinto?

Comecei o tratamento apenas alguns dias depois de saber da doença. Nos primeiros momentos a minha cabeça foi ocupada apenas pelas funções práticas, o que eu precisava fazer e resolver antes da sessão e depois dela.

Meu aniversário de 22 anos foi no dia anterior. Lá eu decidi aproveitar e fazer várias coisas das que gostava (inclusive tomar um gole de um espumante) pra que eu começasse essa nova etapa, meu novo ano, livre de vontades e preparada pro que vinha.

É claro que eu não estava preparada coisa nenhuma. Tudo é novo. Mas eu tento concentrar cada etapa a partir do que já é conhecido.

Por exemplo: eu já tomei soro, sei qual é o procedimento. Ou, já tirei sangue para outro tipo de exame. E assim foi. Quando chegou no momento do desconhecido ele só chegou e se transformou em minha nova rotina. Continuo tentando esse exercício.

Ainda sinto confusão e medo. Ainda tem dias que eu acordo e penso que é tudo sonho e não tenho doença nenhuma. Mas essas manhãs da pra contar nos dedos agora. É um dia por vez, uma descoberta por vez, aprendendo todo dia. Dias escuros e dias felizes. A vida não parou e outros acontecimentos estão acontecendo independente do câncer. E eu tenho que lidar do jeito que dá. Algumas eu apenas guardo pra lidar depois. E assim vamos.

 *Este relato integra o projeto “Além do Câncer”, no qual a Barbara Popadiuk conta histórias, reflexões e desabafos de uma garota de 22 anos com câncer de mama. Barbara nasceu em Rio Negro, mas cresceu na Vila Nova, em Mafra. Ela é jornalista, formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e mestranda em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

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